As representações de ‘educando-pobre’ e a formação da identidade profissional do educador social em ONGs caritativas no Brasil
Esta pesquisa, resultado de um doutoramento em educação: psicologia da educação objetivou identificar as relações entre as possíveis representações sociais de ‘educando-pobre’ e a identidade profissional dos educadores atuantes no campo da educação não-formal de duas instituições sócio-educativas –...
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Universidad Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires. Facultad de Ciencias Humanas. Núcleo de Estudios Educacionales y Sociales (NEES)
2014
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Esta pesquisa, resultado de um doutoramento em educação: psicologia da educação objetivou identificar as relações entre as possíveis representações sociais de ‘educando-pobre’ e a identidade profissional dos educadores atuantes no campo da educação não-formal de duas instituições sócio-educativas – uma no Rio de Janeiro-RJ, e outra em Belo Horizonte-MG – de uma rede de ONGs caritativas do Terceiro Setor, administrada pela Igreja Católica Apostólica Romana. Para alcançar estes objetivos buscou-se identificar as representações de ‘educando-pobre’ existentes entre os profissionais da educação desta ONG voltada para a capacitação profissional de seus assistidos, averiguar se estas representações eram sociais e de que forma estas representações auxiliavam na construção de uma identidade própria deste grupo de profissionais da educação que trabalhavam em um processo de educação formal e capacitação profissional com este grupos de sujeitos determinados como empobrecidos pela legislação de filantropia organizada em nosso país. A partir da Teoria das Representações Sociais de Serge Moscovici – em uma abordagem societal de Willem Doise –, da Teoria da Identidade Profissional de Claude Dubar e a análise retórica do discurso dos educadores – proposta por Tarso Bonilla Mazzotti – foi identificada a existência de um modelo figurativo de ‘resgate social’, partilhado por duas representações sociais – a de ‘educando-pobre’ e a de ‘ONG caritativa’ – que organizam, orientam e condicionam o processo de ‘atribuição e pertença’ entre as distintas categorias sociais presentes na negociação entre os educadores sociais e os outros grupos sociais. As entrevistas semidirigidas realizadas com os educadores das instituições estudadas apontam para a existência de um campo simbólico da representação social de ‘educando-pobre’ organizado na figura metonímica do pobre ‘Lázaro’ da cultura sócio-religiosa da instituição que se apresenta como um sujeito ‘fragmentado’ – econômica, social e moralmente – pela sua condição de pobreza. Desta forma, todas as atividades educacionais e de capacitação profissional estão para atender as demandas desta figura metonímica de ‘pobre’ que corresponde, não necessariamente aos sujeitos reais que se encontram no ambiente sócio-educacional, mas ao que os educadores e gestores acreditam que seja as necessidades de um ‘pobre idealizado’ pela instituição e pelos sujeitos responsáveis pelos processos educativos. Enfim, estas referidas representações proporcionam uma ‘esteganalteridade’, ou seja, assumem a função de ‘mascarar’ as reais demandas sócio-educacionais do ‘educando-pobre’ que está presente no cotidiano das relações neste ambiente educativo. Àqueles sujeitos que não se enquadram nesta figura representativa de pobreza acabam por evadir, naturalmente, destes espaços socio-educacionais. Igualmente, as representações sociais de ‘ONGs caritativas’, também presentes no processo identitário do educador social, cumpre duas finalidades. No primeiro momento, a vivência destas representações sociais ajuda a legitimar a existência das instituições sócio-educativas católicas, no ambiente do Terceiro Setor filantrópico brasileiro, projetando a sua importância como investidora de trabalhos sócio-educacionais que promovem a inserção dos sujeitos na sociedade brasileira a partir da educação e da capacitação para o mercado de trabalho. No segundo momentos, estas representações reafirmam a importância dos educadores sociais como uma categoria profissional legitima e responsáveis pela integração das camadas empobrecidas à sociedade civil no país. Neste aspecto, as representações de ONGs caritativas ajudam a criar uma espécie de ‘iconidentidade profissional’, que serve como diferenciador identitário do educador-social em relação aos outros profissionais da educação formal, caracterizando o seu trabalho com os pobres em uma perspectiva de inclusão destes sujeitos na sociedade e no mercado de trabalho, a partir de um tipo de relacionamento diferenciado por aqueles outros profissionais da educação que permaneceram no sistema formal de educação. Ambas as representações sociais, ‘educando-pobre’ e ‘ONGs caritativas’ buscam atender as demandas da figura metonímica do ‘pobre-lázaro’ construído pelo modelo figurativo das representações sociais partilhadas em seu processo básico de atribuição e pertença ao grupo profissional de educadores sociais no Terceiro Setor, sem o compromisso de buscar atender as reais demandas dos pobres que se encontram neste ambiente sócio-educacional. |